Posted by Gabriel Orcioli on março 13, 2019 in Meditações Diárias | No comments
A história de hoje é uma das diversas provas de como o
sistema atual é um grande problema. Eu resolvi colocar aqui a história de uma
mulher que passou por muita coisa difícil na vida e que mesmo assim encontrou
seu jeito de sobreviver.
Sim, é uma história de pornografia porém tem o principal
intuito de mostrar pra você como é o sistema e como esse sistema prejudica a
vida de bilhões de pessoas. Essa é apenas uma história mas quero que pense nas
milhões de histórias assim ou pior.
A história de Márcia Imperator é uma das histórias que me
incentiva a querer ajudar o máximo de pessoas possível. Antes de julgar é
melhor conhecer. Lembre-se que, o sistema atual não oferece as mesmas
oportunidades para as mesmas pessoas. Portanto não diga que as pessoas poderiam
escolher o mesmo caminho que você. O mundo e suas dificuldades não existem para
satisfazer todas as suas expectativas, crenças, vontades e desejos. Algumas pessoas não tem e nunca terão as
mesmas oportunidades que você.
Irei contar a história e fazer alguns comentários.
Meus pais, quando eu nasci, eles trabalhavam na lavoura.
Depois meu pai foi trabalhar em Camargo Corrêa em Rosana e quando meu pai foi
demitido da Camargo Corrêa a gente voltou pra lavoura. Aí foi quando eu comecei
a trabalhar na lavoura com sete, oito anos de idade (perceba que quando a vida é difícil, não
existe essa de dizer que lugar de criança é na escola. Se a vida é difícil,
sobreviver é muito mais importante que estudar).
Nós sempre estávamos mudando. Na verdade é assim, digamos que
você tinha um pedaço de terra que você não trabalhava nela, você arrendava para
alguém trabalhar.
Meu pai arrendava a terra e as vezes aquele lugar não estava
tão bom assim, ou então ele recebia uma proposta melhor em outro lugar, então a
gente saia e mudava.
Eu comecei a trabalhar com o meu pai e nós plantávamos tudo o
que você imaginar de alimentos que seja de lavoura.
Nossa vida era muito difícil e meu pai e minha mãe, eram
muito violentos. O meu pai, quando fazíamos algo que ele não gostava,
geralmente ele marcava no caderninho dele e a gente sabia que quando a
paciência dele se esgotava, a coisa ia ficar muito ruim. Ele pedia pra gente
buscar uma vara entre várias e pedia pra gente escolher a melhor delas. Depois
ele usava essa vara pra bater muito na gente. Ficava toda vermelha por causa da
surra porque era muito forte.
O meu pai era menos violento que minha mãe. Minha mãe podia
bater na gente em qualquer lugar por qualquer razão. Ela era desse jeito. Um
dia, eu olhei para um rapaz na rua e ela viu, e ele me bateu muito na frente do
rapaz (quando
temos pai e mãe com um desenvolvimento muito ruim e precário é esperado que
cometam muitos erros como o exagero de violência contra a criança, perceba que
o problema não é bater mas sim exagerar, criando um trauma que jamais poderá
ser curado. Veja como a vida dessa mulher foi tão difícil).
Um dia, um amigo conhecido da família, esperou minha mãe se
afastar e perguntou pra mim se eu não estava cansada de apanhar e de viver
assim, e ele disse que iria cuidar de mim e que eu nunca mais precisaria passar
pelo que eu passava.
Na minha cabeça de criança com 15,16 anos, era que ele estava
me oferecendo uma solução e que eu poderia me livrar de tudo aquilo. Eu não
sabia o que ele queria ou o que iria fazer, eu simplesmente concordei. Um dia
ele veio até a nossa casa com a irmã dele, e enquanto ele conversa com meus
pais na sala, eu e a irmã dele fugimos pela janela.
Meus pais somente perceberam que eu tinha fugido depois de um
tempo que ele tinha ido embora.
O que aconteceu foi que comecei a viver com eles e o que eu
não sabia é que eu seria a esposa dele. Eu não amava ele e mesmo assim
engravidei e tive minhas filhas.
Eu levei alguns anos
pra voltar a falar com meus pais.
Além de eu ter que trabalhar, tinha que levar os filhos no
colo. Eu tive 3 filhas.
Como eu tive minhas filhas muito nova, até hoje eu não me
sinto assim como uma mãe de verdade. Pra mim, como tive minhas filhas muito
cedo era como uma menina brincando de boneca. Eu não tive tempo de curtir minha
gravidez. Eu nunca tive a oportunidade de montar um quartinho de bebê para meus
filhos, porque não tinha dinheiro pra montar. A roupinha de bebê era usada dos
outros, porque eu não tinha dinheiro pra comprar.
E depois disso quando eu separei, eu tive que ficar longe das
minhas filhas para poder sustenta-las (uma das diversas consequências do sistema atual).
Eu não tive convívio necessário que minhas filhas precisam de mim quando elas
eram pequenas. Nosso convívio foi mais a distância. Elas ficavam na casa da
minha mãe e eu vim pra São Paulo pra trabalhar pra poder botar comida na
boquinha delas, se não elas iriam
passar fome.
Minha mãe não aceitava que filha separada morasse na casa
dela e então eu fui morar com meu irmão por um tempo. Comecei a trabalhar como
garçonete de Bingo. Eu não tinha condições e eu saí com o dinheiro da passagem
de ônibus. Era tudo o que eu tinha.
Eu não tinha dinheiro nem pra comer no meio do caminho.
Pra não falar que eu não comi durante a viagem, foi um juiz que
estava sentado do meu lado que me deu um lanche.
Consegui um emprego, comecei a trabalhar no Bingo mas não
demorou muito e fui demitida. Depois passei a cuidar de uma criança mas também
não durou tanto tempo. Depois disso comecei a trabalhar como faxineira. Hoje em
dia, as faxineiras cobram 100,00 ou até mais para fazer a limpeza. Eu ganhava
na época 35,00 reais.
Depois de um tempo, eu sai com uma amiga minha para um Baile
e eu conheci alguém. A gente dançou junto. E a gente manteve contato. Depois de
um tempo junto, ele me pediu pra morar com ele na terceira vez que a gente se
viu.
Eu disse que estava cedo pra morar com ele e que meu objetivo
era juntar dinheiro pra buscar minhas filhas. Eu estava guardando dinheiro pra
buscar as minhas filhas.
Ele tinha uma moto e ele falou que com o tempo eu ia aprender
a amá-lo e ele disse que ia vender a moto dele pra que eu pudesse buscar as
minhas filhas na próxima semana. Eu
aceitei na hora. Essa foi a segunda vez que eu casei sem amor.
Dessa vez eu me sacrifiquei pelas minhas filhas.
Quando fomos buscar minhas filhas o meu ex não queria
entregar as crianças e ele tinha pego a do meio e tinha dado pra alguém e essa
pessoa estava cuidando da menina. Eu fui até lá, peguei a minha filha e trouxe
ela pra morar junto comigo.
Eu disse que ia buscar minhas outras meninas e fui buscar.
Chegando em Chapecó minha filha a mais velha estava com uma lata nas costas com
água porque não tinha água em casa e ela estava buscando do vizinho. E ela
tinha uma energia inguinal e isso me deixou tão irritada que eu disse chega, de
hoje não passa. Aqui elas não ficam mais.
Tinha uma viatura passando e eu chamei a viatura, eu
expliquei a situação. Os policiais vieram, me acobertaram pra que eu pudesse
pegar as meninas e fomos para a assistência social.
Na frente do juiz o meu ex marido disse que ele queria deixar
a situação como está ou seja, a mais velha comigo, a mãe, a mais novo com ele e
a do meio com o patrão dele porque o padrão dele queria uma filha e ele,
idiota, deu a minha filha para o patrão. Então o juiz determinou que todas as
minhas filhas tinham que ficar comigo e nós ficamos juntas.
Depois voltei a estudar porque parei na quinta série, fiz
supletivo. Eu trabalhava e estudava, eu comecei a fazer faculdade mas trabalho,
casa e faculdade não deu certo. Fiquei muito atrás na faculdade então tive que
parar.
Eu não amava esse homem que estava comigo mas eu continuava
com ele porque eu sabia que essa situação era a melhor para as minhas filhas.
Até que um dia consegui um trabalho para fazer faxina na casa de um médico. E
ele sim era sedutor e acabei me apaixonando por ele.
Eu cheguei para meu marido e falei que estava tendo um caso,
eu disse que não amava ele e que eu queria o divórcio e queria sair com as
minhas filhas porque o outro já havia arrumado uma kitnet pra eu morar com
elas.
Como ele gostava muito de mim, ele não me deixou ir. Ele
praticamente implorou dizendo que eu iria aprender a amá-lo, eu te perdoou. Ele
me tratava como uma princesa, ele tratava minhas filhas como se fossem filhas
dele. Ele se sacrificou demais pela gente porém eu não o amava. Eu amava outra
pessoa e eu não conseguia viver com ele e ao mesmo tempo continuar a ter um
caso com outra pessoa (inteligente a mulher porque ela foi honesta, conversou
honestamente com a pessoa e não queria causar um problema maior do que era).
Acredito que teríamos uma vida incrível juntos se eu tivesse gostado dele. Não
temos como forçar alguém a amar a gente.
Esse médico que eu amei, ele realmente foi muito pai para
minhas filhas. O problema era que uma das minhas filhas tinha se apegado ao meu
ex marido e ela gostava do meu ex marido como pai e não do homem com quem eu
estava. Ela pegou raiva dele. Ela fazia de tudo para trabalhar a gente.
E eu fiquei com ele por cerca de dois anos, até descobrir que
ele era casado (e
vocês ainda acreditam que todas as pessoas que traem ou se envolvem com alguém
casado, sabe que a pessoa é casada? Essa é apenas uma das centenas de casos
espalhados pelo mundo). Um dia ele estava no consultoria com a
esposa dele, e eu fui lá. Uma das minhas amigas que era a secretária, ela
pensou que eu sabia que ele era casado e ela simplesmente falou pra mim: “ele estava aqui hoje com a esposa dele”.
Ela ficou super envergonhada porque ela pensou que eu sabia,
mas eu não sabia. Depois disso eu cheguei nele puta da vida, terminei tudo e
segui com minha vida (observação: quando o sentimento é forte a maioria das
pessoas não conseguem sair da relação com alguém casado. Logo culpar a pessoa
por não conseguir sair, é um grande erro de sua parte. Se você comete esse tipo
de erro, é melhor parar agora e entender que o sentimento pode escravizar).
Nessa época voltei a
deixar minhas filhas com a minha mãe, enquanto eu estava em São Paulo
trabalhando pra poder sustenta-las. Aqui foi onde tudo começou a acontecer.
Conheci uma garota que me apresentou ao produtor do Sergio Malandro. Depois de
um tempo conheci outras pessoas que me levaram até outras pessoas e um dia,
estava com minha amiga e um rapaz jovem olhou pra mim e disse que eu era bonita
e que queria meu número para me colocar no programa.
Eu não dei bola porque nesse ramo o que muitas pessoas
recebem são convites que no final não vira nada. Então, um dia me ligam, era
esse rapaz, ele pediu desculpa e depois de alguns dias fui convidada para
participar do programa do João Kléber chamado Teste de Fidelidade.
Eu comecei a trabalhar com Striptease e o meu assessor ele me
roubava. Eu deveria ganhar por noite 1500,00 reais porém ele só me passava
500,00 reais. Porém 500,00 reais em uma noite era muito melhor do que eu
ganhava durante um dia inteiro de trabalho e esse dinheiro permitiu melhorar as
condições de vida das minhas filhas e também da minha.
Um dia, esse rapaz pra quem eu trabalhava disse que tinha
conseguido um contato e que queriam conversar comigo. Marquei a reunião, e fui
e eles explicaram que era um filme pornô e que iriam me pagar um grande valor
pra fazer.
Eu pensei por um tempo, fui conversar com os meus pais.
Coloquei todas as cartas na mesa e perguntei o que eles achavam. Recebi a
permissão deles e eu fiz o filme e ganhei um bom dinheiro.
O que você achou da
história de Márcia Imperator?
Você realmente acha que ela é uma pessoa ruim por seguir
nesse caminho ou você consegue ver o lado do sistema que a obrigou a seguir
esse caminho?
Como gosto de dizer, é muito fácil julgar alguém sem conhecer
a história e o que aconteceu. Quando julgamos de forma prejudicial pessoas que
não tiveram as mesmas oportunidades que nós, nós estamos jogando essa pessoa
contra nós porque o sistema e o mundo foi cruel com essa pessoa, prejudicando-a
demais e você chega nessa pessoa e a trata como um monstro?
Se você não analisar a situação corretamente, todo esse mal
pode voltar pra você. O que você acha que acontece com pessoas muito pobres que
não tem as mesmas condições ou as mesmas oportunidades que você? O que acontece
com um pai que chega em casa sem trabalho e tem filhos pra alimentar e não tem
condições de alimentar? O que ele irá fazer?
Por que você acha que o crime organizado e o tráfico de
drogas, e principalmente de sequestros e assaltos crescem a cada dia?
O problema é o sistema e enquanto você culpar as pessoas pela
falta de oportunidade como se elas tivessem escolha, você é uma pessoa muito
pior do que elas. Essas pessoas não tiveram escolha e pegaram o que podiam,
enquanto você tem a opção de olhar a história e entender, mas prefere ignorar e
tratar esses seres humanos como lixo.
Pense bem, em suas decisões porque se você ignorar que o
sistema é o problema, você irá culpar pessoas e como nós sabemos, na maioria
dos casos culpar as pessoas é um grande erro porque foi o sistema que as
obrigou a serem como são e em muitos casos a viverem como vivem.
Pense
nisso.
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