quarta-feira, 13 de março de 2019

Dia 84 Xuxa Medalha Olímpica

Posted by Gabriel Orcioli on março 13, 2019 in | No comments

Eu comecei a nadar e 3 meses depois um treinador me viu, ele me olhou, disse que eu era rápido e me convidou pra equipe e competir. Eu topei mas eu não sabia nem o que que era o treinamento de natação. Então comecei bem devagar porque ele não me deixou muito à vontade. Ele sabia que eu não tinha preparo físico para treinar.

Ele me botava na água e dizia o que eu tinha quer fazer: “10 de 400, mas vai fazendo aí”. Às vezes eu parava no meio. Às vezes eu parava em baixo e ficava mergulhando. Com certeza ele via. Com certeza ele sabia que eu estava precisando de descanso. Ele nunca me incomodou por causa disso. Sempre me deixou fazer a coisa bem tranquila e do meu jeito no começo, até eu me adaptar e estar preparado fisicamente para poder aguentar os treinamentos do dia a dia.

Nunca me espelhei em atletas. As pessoas que eu admirava que eu gostava de assistir, no caso um deles era o Ayrton Senna. Eu era muito mais fã do tênis do que da natação. Na natação foi tudo muito rápido. Entrei, comecei a nadar e quando eu vi já estava ganhando o estadual, bem, foi uma bola de neve muito rápida e muito grande.

Eu nunca tive aquela coisa de me espelhar e isso foi até bom. Por que eu competia contra os grandes e nem sabia o quão grandes eles eram. Eu nunca tive esse coisa de colocar o cara em um pedestal como o “melhor do mundo”. Ele podia ser o melhor do mundo mas pra mim, ele e outro ali do meu lado competindo dava na mesma. Não tinha essa referência.

Quando cheguei nas olimpíadas, cheguei querendo ganhar. Eu respeitava muito meus adversários. Eu sabia que podia perder qualquer hora, principalmente contra o Gustavo Borges que era um grande nadador do meu tempo. Que foi o cara que quando eu estava indo para Barcelona e ele estava ganhando a medalha dele de prata olímpica.

Eu lembro que tinha uma competição em brumenau e eu não fui para assistir as provas e fui assistir a medalha olímpica dele no bar. Eu vi a medalha do Gustavo.

Eu tinha essa referência do Gustavo como grande atleta olímpico do Brasil mas era o cara que eu queria ganhar. Era o cara que estava na minha prova. Eu acho que isso que faz a competição ser interessante. Pra mim, você nunca pode entrar com medo.

A partir do momento em que você tem muito medo, pra mim, você já perdeu. Acredito que a arrogância de achar que irá vencer é importante para todo atleta.

Os pensamentos vão te consumindo. E se você antes de uma prova olhar par ao adversário e achar que irá perder, então pra mim você já perdeu. Não precisa nadar.

Se hoje estou falando 20 anos depois é por causa da medalha olímpica. Não seria os outros resultados. Os outros resultados seriam esquecidos. A medalha olímpica é uma coisa que dá um registro, uma marca de que você alcançou o topo. Uma vez que você consegue algo tão grande, por mais que você queira, não é possível descer do topo.

O reconhecimento é uma mudança entre antes e depois da medalha olímpica. São várias as situações que marcam, por exemplo o meu primeiro mundial foi marcante mas o mundial na praia no Rio de Janeiro, em Copacabana na Praia em uma arena, é especial demais.

Foi difícil o processo de escolha em relação ao momento de parar. Eu tirei um ano de 2006 sem treinar muito, na verdade tentando treinar, fazendo um ano de fisioterapia, onde eu estava tentando descobrir se o momento era adequado. Quando eu vi que o treinamento que eu estava fazendo e o treinamento que eu era capaz de fazer, eu vi que não seria capaz de dar o grande resultado que eu gostaria, então eu decidi que era melhor parar.

Eu estava vindo de várias lesões então treinar sabendo que você não vai ganhar é como eu falei antes, eu já perdi. Treinar para ganhar um bronze ou quarto no Pam ou treinar para ganhar uma prata no Pan, não é ruim mas você quer treinar pra ganhar o ouro. Aí você fica com a prata, com o bronze, com o quarto lugar e começa a perceber que seu corpo não é mais o mesmo que antes, então é melhor parar e dar a oportunidade para outro que pode alcançar os resultados que você não pode mais alcançar.

O resultado é importante mas o legal é o processo que leva ao resultado. Então passar isso para as pessoas é mostrar os momentos que coincide coma vida de qualquer um no dia a dia. Então isso foi muito legal porque foi uma paixão que eu encontrei.

Acredito que todo mundo pensa em desistir na vida de alguma coisa ou de algum sonho ou de algum objetivo, pelas dificuldades que são encontradas no dia a dia, assim como limitações ou por outras razões. Todo mundo encontra dificuldades. Acredito que a dificuldade tem que fazer parte da vida. Algumas delas não servem pra nada que é o tipo de dor prejudicial ou irrelevante, porém as outras dores servem para ajudá-lo a crescer e ser melhor.

Muitos não querem sentir dor. Hoje, quem não sente dor são sempre os perdedores. Para ser um vencedor na vida é preciso enfrentar a dor, os medos, as dificuldades. O vencedor não é aquele que vence um campeonato ou ganha uma medalha olímpica. Pra mim o vencedor é todo aquele que luta para vencer as dificuldades em sua área.

A verdade é que eu desistia muito fácil mas aceitar os problemas e administrar esses problemas e tentar utilizá-los como uma forma positiva de encontrar forças para acordar no outro dia e enfiar a cara na água ou ir para o trabalho e buscar o teu sonho ou fazer um curso novo pra melhorar sua condição e defeitos, eu acho que isso é muito importante: encontrar onde você é fraco ou tem dificuldade e trabalhar para resolver isso.

É muito fácil querer melhorar só o que você é bom. Você tem que também tentar melhorar o que você é ruim ou mais ou menos. Isso é o mais importante de tudo. E no esporte é exatamente isso. Não adianta treinar só no que eu sou bom. Tenho que treinar o que sou ruim também, mas acima de tudo tenho que ficar bom em todas as habilidades necessárias para ser um campeão na natação.

E isso se aplica a qualquer área da vida, seja no desenvolvimento ou em um relacionamento. Não adianta se focar no que você quer. Tem que se focar no que a situação pede. E isso é um dos aspectos mais importantes e relevantes que as pessoas tendem a ignorar completamente.

Querem fazer as coisas do jeito deles, ao invés de fazerem as coisas como precisam serem feitas.

Se sou muito bom no final de prova, irei treinar manter meu alto nível de desempenho, mas se sou ruim na largada, tenho que treinar muito na largada. Caso contrário de nada irá adiantar eu ser muito bom no final de prova se minha largada é ruim. Minhas chances de vencer são menores por causa da largada que foi ruim.

Quando o treino acabava, eu treinava sozinho a largada enquanto todos os outros tinham ido embora. Era assim que eu evoluía em um ponto que eu era frágil ou não era bom.

Conclusão

O que você pode tirar de lições da história de Fernando Scherer? Faz sentido para a sua realidade?


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