Posted by Gabriel Orcioli on março 13, 2019 in Meditações Diárias | No comments
Eu comecei a nadar e 3 meses depois um treinador me viu, ele
me olhou, disse que eu era rápido e me convidou pra equipe e competir. Eu topei
mas eu não sabia nem o que que era o treinamento de natação. Então comecei bem
devagar porque ele não me deixou muito à vontade. Ele sabia que eu não tinha
preparo físico para treinar.
Ele me botava na água e dizia o que eu tinha quer fazer: “10
de 400, mas vai fazendo aí”. Às vezes eu parava no meio. Às vezes eu parava em
baixo e ficava mergulhando. Com certeza ele via. Com certeza ele sabia que eu
estava precisando de descanso. Ele nunca me incomodou por causa disso. Sempre
me deixou fazer a coisa bem tranquila e do meu jeito no começo, até eu me
adaptar e estar preparado fisicamente para poder aguentar os treinamentos do
dia a dia.
Nunca me espelhei em atletas. As pessoas que eu admirava que
eu gostava de assistir, no caso um deles era o Ayrton Senna. Eu era muito mais
fã do tênis do que da natação. Na natação foi tudo muito rápido. Entrei,
comecei a nadar e quando eu vi já estava ganhando o estadual, bem, foi uma bola
de neve muito rápida e muito grande.
Eu nunca tive aquela coisa de me espelhar e isso foi até bom.
Por que eu competia contra os grandes e nem sabia o quão grandes eles eram. Eu
nunca tive esse coisa de colocar o cara em um pedestal como o “melhor do
mundo”. Ele podia ser o melhor do mundo mas pra mim, ele e outro ali do meu
lado competindo dava na mesma. Não tinha essa referência.
Quando cheguei nas olimpíadas, cheguei querendo ganhar. Eu
respeitava muito meus adversários. Eu sabia que podia perder qualquer hora,
principalmente contra o Gustavo Borges que era um grande nadador do meu tempo.
Que foi o cara que quando eu estava indo para Barcelona e ele estava ganhando a
medalha dele de prata olímpica.
Eu lembro que tinha uma competição em brumenau e eu não fui
para assistir as provas e fui assistir a medalha olímpica dele no bar. Eu vi a
medalha do Gustavo.
Eu tinha essa referência do Gustavo como grande atleta
olímpico do Brasil mas era o cara que eu queria ganhar. Era o cara que estava
na minha prova. Eu acho que isso que faz a competição ser interessante. Pra
mim, você nunca pode entrar com medo.
A partir do momento em que você tem muito medo, pra mim, você
já perdeu. Acredito que a arrogância de achar que irá vencer é importante para
todo atleta.
Os pensamentos vão te consumindo. E se você antes de uma
prova olhar par ao adversário e achar que irá perder, então pra mim você já
perdeu. Não precisa nadar.
Se hoje estou falando 20 anos depois é por causa da medalha
olímpica. Não seria os outros resultados. Os outros resultados seriam
esquecidos. A medalha olímpica é uma coisa que dá um registro, uma marca de que
você alcançou o topo. Uma vez que você consegue algo tão grande, por mais que
você queira, não é possível descer do topo.
O reconhecimento é uma mudança entre antes e depois da
medalha olímpica. São várias as situações que marcam, por exemplo o meu
primeiro mundial foi marcante mas o mundial na praia no Rio de Janeiro, em
Copacabana na Praia em uma arena, é especial demais.
Foi difícil o processo de escolha em relação ao momento de
parar. Eu tirei um ano de 2006 sem treinar muito, na verdade tentando treinar,
fazendo um ano de fisioterapia, onde eu estava tentando descobrir se o momento
era adequado. Quando eu vi que o treinamento que eu estava fazendo e o
treinamento que eu era capaz de fazer, eu vi que não seria capaz de dar o
grande resultado que eu gostaria, então eu decidi que era melhor parar.
Eu estava vindo de várias lesões então treinar sabendo que
você não vai ganhar é como eu falei antes, eu já perdi. Treinar para ganhar um
bronze ou quarto no Pam ou treinar para ganhar uma prata no Pan, não é ruim mas
você quer treinar pra ganhar o ouro. Aí você fica com a prata, com o bronze,
com o quarto lugar e começa a perceber que seu corpo não é mais o mesmo que
antes, então é melhor parar e dar a oportunidade para outro que pode alcançar
os resultados que você não pode mais alcançar.
O resultado é importante mas o legal é o processo que leva ao
resultado. Então passar isso para as pessoas é mostrar os momentos que coincide
coma vida de qualquer um no dia a dia. Então isso foi muito legal porque foi
uma paixão que eu encontrei.
Acredito que todo mundo pensa em desistir na vida de alguma
coisa ou de algum sonho ou de algum objetivo, pelas dificuldades que são
encontradas no dia a dia, assim como limitações ou por outras razões. Todo
mundo encontra dificuldades. Acredito
que a dificuldade tem que fazer parte da vida. Algumas delas não servem
pra nada que é o tipo de dor prejudicial ou irrelevante, porém as outras dores
servem para ajudá-lo a crescer e ser melhor.
Muitos não querem sentir dor. Hoje, quem não sente dor são
sempre os perdedores. Para ser um vencedor na vida é preciso enfrentar a dor,
os medos, as dificuldades. O vencedor não é aquele que vence um campeonato ou
ganha uma medalha olímpica. Pra mim o vencedor é todo aquele que luta para
vencer as dificuldades em sua área.
A verdade é que eu desistia muito fácil mas aceitar os
problemas e administrar esses problemas e tentar utilizá-los como uma forma
positiva de encontrar forças para acordar no outro dia e enfiar a cara na água
ou ir para o trabalho e buscar o teu sonho ou fazer um curso novo pra melhorar
sua condição e defeitos, eu acho que isso é muito importante: encontrar onde você é fraco ou tem
dificuldade e trabalhar para resolver isso.
É muito fácil querer melhorar só o que você é bom. Você tem
que também tentar melhorar o que você é ruim ou mais ou menos. Isso é o mais
importante de tudo. E no esporte é exatamente isso. Não adianta treinar só no
que eu sou bom. Tenho que treinar o que sou ruim também, mas acima de tudo
tenho que ficar bom em todas as habilidades necessárias para ser um campeão na
natação.
E isso se aplica a qualquer área da vida, seja no
desenvolvimento ou em um relacionamento. Não adianta se focar no que você quer.
Tem que se focar no que a situação pede. E
isso é um dos aspectos mais importantes e relevantes que as pessoas tendem a
ignorar completamente.
Querem fazer as coisas do jeito deles, ao invés de fazerem as
coisas como precisam serem feitas.
Se sou muito bom no final de prova, irei treinar manter meu
alto nível de desempenho, mas se sou ruim na largada, tenho que treinar muito
na largada. Caso contrário de nada irá adiantar eu ser muito bom no final de
prova se minha largada é ruim. Minhas chances de vencer são menores por causa
da largada que foi ruim.
Quando o treino acabava, eu treinava sozinho a largada
enquanto todos os outros tinham ido embora. Era assim que eu evoluía em um
ponto que eu era frágil ou não era bom.
Conclusão
O que você pode tirar de lições da história de Fernando
Scherer? Faz sentido para a sua realidade?
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