Dia 2 | Vou Abalar Seu mundo

Posted by Gabriel Orcioli on janeiro 02, 2019 in Cristianismo, Dor e Sofrimento, Meditações Diárias, Perdão | No comments

A história a seguir é uma história real contada pela perspectiva do Pastor Mark. Eu sou ateu mas talvez um dos poucos ateus que defendem o Cristianismo. Aqui não é sobre religião. Essa história é incrível. Tirou lágrimas dos meus olhos. Confira a história:

Adele é uma das mulheres mais memoráveis que conheci. O pastor que me hospedava em Ruanda disse: “Pastor Mark, quero te levar a uma mulher que é tão memorável que você ficará profundamente marcado pelo resto de sua vida. O marido dela era pastor. Ele foi brutalmente assassinado, massacrado a machadadas até a morte diante dela. E a história que ela vai te contar mudará sua vida.”.

Então viajamos em estradas irregulares, em desfiladeiros, até uma pequena vila africana.

Quando entrei na casa de Adele, vi a foto do Pastor. Fiquei olhando a foto por alguns momentos. Então me sentei e conversei com Adele, e aí eu disse: “Adele, sei que seu marido foi morto brutalmente. Você gostaria de me contar a história?”. Com lágrimas nos olhos e lábios trementes, ela contou a história.

Começou a contar como os rebeldes foram se aproximando da vila, ela e o marido fugiram para uma igreja católica. Os rebeldes entraram naquela igreja. Adele achou que os rebeldes respeitariam o santuário, mas não.

Os rebeldes entraram gritando pro pastor se levantar. Ninguém se levantou. Eles continuaram gritando porque queriam matar os líderes da comunidade primeiro. O pastor se levantou.

Os rebeldes correram na direção do pastor pra esfolá-lo com a machadinha. Bateram nele vez após vez, finalmente sua garganta foi cortada, o sangue jorrava do seu corpo, e ele deu o último suspiro.

Adele começou a gritar e naquela briga, naquela confusão, 45 pessoas morreram e 15 fugiram. Enquanto Adele me contava a história, ela puxou o cabelo preto e eu vi uma cicatriz em sua testa: uma cicatriz que penetrava fundo em seu crânio como se fosse de um lado a outro. Eles a atacaram com machadinhas. E ela foi deixada no chão semimorta com uma grande cicatriz na testa, cicatrizes nas costas e um pulso quase arrancado.

Por três dias, Adele fico jogada entre os cadáveres. Seu coração batia bem fraquinho.

Quando o pessoal da cidade veio enterrar os mortos, encontraram Adele deitada lá. Eles a pegaram nos braços, limparam as feridas, eles a levaram ao hospital. Os líderes rebeldes já tinham partido.

Levou três anos mas ela se recuperou. E começou a pensar: “Posso ficar amargurada, irada, ofendida, destruir minha vida com álcool, drogas, sexo, mas não vou fazer isso. Eu vou para as prisões, levar a cura para os assassinos”.

Havia uma prisão perto da casa dela, e Adele tornou-se a mãe daquela prisão: Ela levava comida. Ela levava roupas. Ela servia com amor e disse: “Pastor Mark, um dia um jovem chamado Luís caiu aos meus pés. Ele chorava e beijava meus pés, e quando olhei pro resto dele, eu vi que ele era o jovem que golpeou e matou meu marido. Era ele o jovem que fez esta cicatriz na minha cabeça. Ele me olhou e disse: “Adele, você me perdoa? Eu o ergui e o abracei, e disse: “Em nome de Jesus, eu te perdoo”.

Pastor Mark, meu coração estava disparado, mas eu sabia que Jesus tinha me perdoado e eu podia perdoá-lo.

Comecei a estudar a Bíblia com os prisioneiros, e Luís veio para os estudos. Ele decidiu seguir a Jesus e ser batizado, mas antes dele ser batizado, ele se levantou diante da prisão publicamente e pediu mais uma vez por perdão. No Batismo ele se levantou novamente e disse: “Adele, eu matei seu marido brutalmente. Eu deixei uma cicatriz de machadinha na sua cabeça. Você me perdoa?”.

Ela disse que diante daqueles prisioneiros, eu o perdoei mais uma vez. Ela disse pra mim, que o filho dela sofreu muito com a morte do pai. E luís disse que queria falar com ele.

Meu filho foi até a cela de Luís e Luís disse: “Eu quero que você me perdoe”. Luís se tornou um prisioneiro-modelo. A graça de Cristo fluía de sua vida. Ele era um novo homem.

Depois de três anos, o governo o libertou por bom comportamento. Mas ele não tinha onde viver, pois seus pais foram mortos no genocídio em Ruanda. Ele matou meu marido pois estava tomado pela raiva e pelo ódio, mas principalmente por ter sua mente feita por monstros da região que eram os guerrilheiros. Esses guerrilheiros invadiam vilas, matavam os homens, estupravam as mulheres, matavam ou deixam os bebês para morrerem de fome ou comidos a noite. Enquanto isso levavam as crianças para serem seus novos guerreiros.

Luís tirou a vida de meu marido porém ele perdeu muito mais do que eu perdi. Ele perdeu os pais, os amigos, a liberdade, o futuro, a infância e principalmente perdeu quem ele realmente era ou seja, a si mesmo. O que eu perdi não se compara com o que ele perdeu. Ele sofreu e sempre irá sofrer muito mais. Ele não teve culpa. Ele seria um homem incrível se o futuro não fosse tirado dele.

E eu disse: “Luís, venha, e eu te adotarei como filho”. E nos últimos anos, ele está vivendo aqui em casa. Pastor Mark, você quer conhecer o Luís?

Vou dizer que fiquei com um nó na garganta quando ela fez essa pergunta. Tinha lágrimas em meus olhos quando o Luís entrou na sala e Adele o abraçou e disse: “Hoje, ele é meu filho adotivo”.

Eu pensei tantas vezes na minha vida onde achei que eu tinha sido maltratado. Tantas vezes disseram coisas que me irritaram. Tantas coisinhas me deixavam nervoso. E eu penso na Adele, como ela podia agir com tanto perdão e amor?

Essa história é uma das muitas histórias que partiram meu coração e deixo essa história em suas mãos para que possa ajuda-lo(a). Não é necessário perdoar quem te feriu mas se conseguir perdoar, irá tirar um peso gigantesco de suas costas.

Eu, Gabriel, usei meu ódio e minha dor para me tornar melhor. Quando você perguntar como eu consigo fazer o que faço, simplesmente pense na dor e sofrimento que tive em minha vida e se acha que estou fazendo muita coisa, então imagine o tamanho do ódio e da dor que uso combustível. O que eu faço não é nada comparado ao ódio e sofrimento que enfrentei.

Reflexão final

1.     Mentalidade de que assassinos não são ruins ou que podem mudar

Por mais que a história sobre perdão seja incrível e que você pode praticar o perdão para seguir em frente, é interessante levar em consideração que a realidade é bem diferente dos sentimentos mais puros que muitos seres humanos possuem.

Em primeiro lugar se o sistema fosse muito bom, Adele e sua vila não teriam passado pelo que passaram. O que prova que o sistema precisa mudar e cabe a você e a mim, mudarmos isso.

Em segundo lugar a vida de um assassino nunca será mais valiosa do que a vida de uma pessoa de bem. Além disso a maioria dos assassinos não se arrependem de terem matado e matariam novamente se tivessem a oportunidade. Por isso liberdade para assassinos não deveria existir. Por isso temos que lutar para existir prisão perpétua e morte. Sei que é difícil de processar mas isso é uma obrigação caso contrário, ao não punir corretamente quem pratica o mal, estamos dizendo pra eles: “Por favor, nós somos tolos o suficiente para manter você como assassino livre. Por isso por favor continue a matar mais pessoas inocentes. Nós iremos recompensá-lo com penas brandas, onde poderá sair da prisão e fazer o que bem entender. Queremos sofrer e perder pessoas que amamos. Sua vida é mais importante do que a vida das pessoas que são importantes para nós”.

É essa mensagem que deveríamos passar? De jeito nenhum e essa postura de muitos seres humanos me deixam com muita raiva e deveria deixar você também.  Enquanto recompensarmos positivamente esses monstros, eles continuaram a fazer o que fazem melhor: destruir a vida das pessoas de bem como eu e você.

2.     Devemos perdoar nossos inimigos?

Acredito que essa resposta irá depender de cada ser humano. Para alguns perdoar é a melhor maneira de seguirem em frente. Para outros é deixar de lado. Para outros, odiar e se vingar é a forma que encontram para seguir em frente. E sim meus caros amigos e amigas, é possível usar o ódio e raiva para o bem como por exemplo, usar o ódio como combustível para ajudar a mudar a vida de outras pessoas, assim como eu tenho feito por anos.

Você é capaz de se perdoar?

Nesse mundo, sempre existirá pessoas maltratando outras pessoas. Sempre existirá coisas terríveis e vergonhosas que podem nos abater e derrubar. Nesse mundo também sempre existirá os tolos que veem o perdão como algo maravilhoso. Onde usam o perdão até quando não deveriam usar.

Quero que pense em sua vida por um momento. Qual o peso que tem carregado? O quanto esse peso tem prejudicado sua vida? Quanto de prazer, felicidade, desenvolvimento, evolução pessoal que esse peso tirou de você?

Eu quero que observe a pessoa que você está culpando. Pode ser seu pai por ser violento como o meu pai era. Pode ser alguém que lhe causou mal quando criança ou quem sabe pode ser a vida injusta, que tirou pessoas querida de você. Eu quero ajudá-lo(a) a se libertar.

Sei que nem todos irão conseguir pois as vezes o trauma é profundo demais e não tem como se livrar desse mal. Quero que comece a parar de se culpar. Quero que entenda que muita coisa dá errado em sua vida, não porque você tenta, mas porque você não se livrou do elefante no meio da sala. Se você se livrar desse grande problema, todos os outros problemas serão resolvidos facilmente. Você perceberá que se é capaz de vencer algo tão grande, o que são as pequenas coisas que o impedem de alcançar o sucesso?

Quero que você se perdoe primeiro. Sua vida será muito difícil se você não se perdoar primeiro.

Você não tem culpa se o seu trauma ou problema o obrigou a fazer muitas das coisas das quais não sente orgulho. Você foi a vítima. Você pode guardar rancor se quiser ou pode escolher aceitar o fardo que carrega. Quanto maior for seu rancor, quanto mais profunda for a culpa, seu fardo ficará cada vez mais pesado. Todo o peso, toda a dor que você vem sofrendo, é como uma bola de neve ficando cada vez maior.

 Se não encontrar uma maneira de aceitar ou deixar de lado, esse fardo irá consumi-lo até que chegará um momento em que não conseguirá mais se reconhecer e irá querer desaparecer ou tirar sua vida.

Você tem dentro de você o combustível necessário à para sua chama nunca mais se apagar. Use seu ódio, sua dor, sua raiva, seu sofrimento para fazer algo bom.

Conheço pessoas que hoje são viciadas mas que somente são viciadas por causa de um grande problema que tiveram em suas vidas. Por mais que essas pessoas tentem, para elas é impossível largar o vício. Algumas delas não tem interesse em largar o vício, mas muitas que querem largar o vício não conseguem.

Conheço mulheres que por causa de ilusões amorosas, traições, perdas, tomaram decisões horríveis e hoje são garotas de programa. Elas não são garotas de programa por tomarem essa decisão consciente, elas foram levadas para esse caminho pois foi a forma que encontraram de fugir da dor. A dor mudou a percepção da realidade e as obrigou a acreditarem em algo muito fraco e prejudicial. 

O fardo é pesado mas se você não aceitar que esse fardo é seu e que você tem que conviver com ele todos os dias de sua vida, esse fardo ficará muito pior. Você precisa tomar as rédeas de sua vida. Você precisa aceitar que o pior aconteceu e que você precisa tirar algo bom de algo ruim.

Um de meus alunos que hoje tem 41 anos, passou 25 anos de sua vida se isolando, se afastando das pessoas, com medo e desesperado sem ter uma caminho a seguir. Ele tinha um problema desde pequeno que o obrigou a se isolar. Por causa disso ele teve uma vida muito difícil. Ele somente conseguiu dar o próximo passo quando compreendeu que não podia deixar que o problema controlasse sua vida. Hoje, ele consegue viver bem melhor pois compreendeu que ele tinha forças para vencer seu problema.

Ao invés de odiar o problema, ele aprendeu a conviver com o problema e com as limitações por causa do problema. Ele mudou o que podia mudar. Ele controlou o que podia controlar.

Outro aluno era casado, tinha 31 anos quando pegou a mulher o traindo em sua própria casa.

Entrou em depressão, tentou tirar a vida mas alguém impediu. Hoje ele tem 55 anos, e passou seus últimos 24 anos não se envolvendo com ninguém, se isolando do mundo, sendo infeliz. Após a consultoria ele entendeu o porquê agiu como agiu e voltou a ser viver como nunca antes e hoje, ele tem uma namorada aos 55 anos.

Ele faz coisas que nunca fez antes. Ele finalmente se encontrou.

Você pode passar sua vida se torturando, prejudicando outras pessoas e até prejudicando seus filhos. Essa pode ser sua escolha. Ou você pode começar a mudar sua mentalidade, agora. Nem todos conseguem mas a maioria consegue. É difícil mas é possível. E eu sei que você pode conseguir.

Tente se libertar. Nós estamos aqui para ajudá-lo.

Você tem muito potencial.